O Encontro Nacional de Teatro de Rua em Angra dos Reis chegou ao fim no domingo, 18, deixando saudades na cidade. A chuva fina que caiu durante toda a noite não foi empecilho, incentivou e molhou com vontade os artistas e também o público que não se intimidou e curtiu todos os espetáculos do dia, o gracioso Teatro de Rocokós, de São Paulo, durante a tarde na Praça da Matriz; e à noite lotou a Praça Amaral Peixoto, abrindo uma grande roda, para ver o Tá na Rua, um dos mais conhecidos grupos de rua do Rio de janeiro.
O grupo apresentou o espetáculo estreando “Momentos” passando conhecimentos para os jovens e relembrando , com dança, música e beleza cênica, importantes fatos políticos que marcaram o País nos últimos tempos.
Na rua com chuva e alegria
Para incentivar a arte circense e contar a história de mambembes que andam pelo Brasil a fora se apresentando em carroças, a Cia de Teatro Rocokós, dirigida por Carlos Biagiolli e formada por um quarteto de palhaços fez brincadeiras e interagiram com a platéia encenando diversos números de mágica, feras domadas e palhaçadas , de uma forma simples e ao mesmo tempo encantadora. No palco, a Cia apresentou para a alegria dos amantes do circo, uma palhacinha mirim que se apresentou como a segunda geração do Rocokós nos fazendo crer que uma das preocupações da companhia é fazer com que a arte circense conquiste espaços e perdure nas gerações futuras.
O último espetáculo da noite foi a estréia de “Momentos” do respeitado Grupo Tá na Rua, dirigido por Hamir Haddad desde 1980, com a proposta de resistência e de não se fazer arte somente com significados do presente, mas principalmente utilizando-se do passado como experiências para transformar o mundo e para formar atores verdadeiramente para a vida.
Com esse propósito , o Tá na Rua que já inspirou diversas produções na cidade, principalmente as do Grupo Teatral Revolucena, tomou conta da Praça da Matriz na noite de domingo. Os atores chegaram com seus figurinos coloridos, com muitas capas, véus e bandeiras, e os colocaram em diversos pontos da praça demarcando em círculos seus espaços de atuação. Se aqueceram por bons momentos com música e dança proporcionando, logo de início, um harmonioso cenário de movimentos.
A peça Momentos apresentada pelo Tá na Rua teve sua estréia nacional em Angra e como explicou o diretor Hamir Haddad, e é característica do Tá na Rua, ela ainda não está pronta. Depois da apresentação na cidade, ela será modificada para melhor e assim continuará sucessivamente. Ele explicou que tinha orgulho pela peça estar nascendo em Angra em contato com a realidade da cidade, como os filhos de cangurus que ficam nas barrigas das mães até estarem no ponto para nascer.
O espetáculo começou com Hamir Haddad parabenizando a Prefeitura de Angra pela realização do Encontro e pelo importante incentivo que vem dando ao teatro de rua. Em seguida apresentou todos os atores e estimulou a participação do público que escolheu, através de sorteios, diversos momentos marcantes da história brasileira para serem encenados, como o primeiro a ser retirado de uma cartola: o Comício das Reformas, realizado em 13 de março de 64, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro. É bom lembrar que o comício retrata a passagem quando o Presidente João Goulart reúne cerca de 150 mil pessoas para defender as liberdades sindicais e democráticas no País e todas as reformas de base propostas na época.
Dezesseis espetáculos, oficinas e debates abrilhantaram o Encontro
O Encontro realizado pela Prefeitura de Angra, através da Secretaria de Cultura, Esportes e Eventos cumpriu o objetivo proposto pelo governo municipal e todos que ajudaram na organização, ao resgatá-lo, que foi levar arte de qualidade para as ruas e praças do Centro e de diversos bairros, valorizando o Teatro de Rua como uma das expressões mais importantes das artes cênicas que precisa de incentivos diversos para crescer, se fortalecer e ocupar cada vez mais espaços na história cultural de Angra e de todo o País.
O evento que apresentou 16 espetáculos, diversas performances teatrais relâmpagas pelas ruas e reuniu por 6 dias dezenas de atores e diretores, de todo o Brasil e de Angra, estimulou uma saudável integração cultural entre os artistas. Na verdade, todos os integrantes dos grupos saíram ganhando com as trocas de experiências e aprendizagens ao assistirem as peças, ao participarem das conversas, das oficinas e por passarem os dias juntos discutindo, respirando teatro e se divertindo.
Mas o Encontro não foi bom somente para os organizadores e para os artistas. Quem mais ganhou com todo o evento foi a população da cidade: a que gosta de teatro e o segue em qualquer lugar que ele esteja e uma outra parcela que ainda não tivera a oportunidade de conhecê-lo e que por alguns segundos, minutos ou por horas pararam nas ruas e praças e puderam apreciar os espetáculos. E o teatro de rua, por sua vez, cumpriu sua função, que é mostrar que para se fazer arte não se precisa de espaços pré-determinados e que o público tenha condições financeiras para pagar para apreciá-la. Ele é a prova de que é preciso somente ter artistas para encená-lo, de corações que possam senti-lo e de incentivos financeiros governamentais e da iniciativa privada para valorizar os artistas que o fazem, o tornam importante e o levam adiante.
A população de Angra demonstrou mais uma vez que é grande admiradora do teatro de rua, que sai de casa faça chuva ou faça sol mas não perde um bom espetáculo, como aconteceu nos três últimos dias durante as peças do Teatro que roda, Vento Forte, Imbuaça, Falus & Stercus, do Rocokós e do Tá na Rua. Todos eles se apresentaram sob chuva e com grande platéia. Tínhamos programado que se chovesse muito iríamos transferir as peças para o Convento São Bernardino de Sena, mas não foj preciso. Elas foram acompanhadas na chuva nas praças e ruas e acredito que se mudássemos de local o resultado não seria tão bom como foi. Fechamos mais uma temporada cultural na cidade tendo a consciência que estamos abrindo novas portas para o teatro de rua na cidade , no Estado e no Brasil. Tenho recomendações do Prefeito Fernando Jordão e do Secretário de Integração Governamental Bento Pousa Costa para não medir esforços e continuar a investir na cultura popular de qualidade como no teatro de rua, que é mais um importante instrumento de conscientização cultural, acessível a todos, - assegurou o Secretário de Cultura, Marcus Veníssius.