Para traçar o perfil do artesão de Angra dos Reis e diagnosticar os tipos de artesanato mais comuns na região, a Prefeitura realizou um cadastramento no município. Após a conclusão da coleta dos dados de todos que se inscreveram, foi possível traçar um perfil da produção artesanal de Angra. Este estudo foi apresentado aos artesãos na noite de terça-feira, dia 21, no Convento São Bernardino de Sena, pelo secretário de Comércio, Indústria Naval, Porto e Energia, Francisco José de Almeida.
O objetivo do cadastramento e do levantamento de dados sobre a atividade artesanal vai além de obter informações e possuir um perfil. Francisco explicou que a partir destes dados será possível traçar todo planejamento de ações para este setor como a realização de cursos de qualificação e feiras, um site detalhando cada segmento artesanal e suas técnicas, a criação da Casa do Artesão e muitas outras. O secretário também apresentou a marca com o slogan “Artesanato dos Reis”, que irá acompanhar os artesanatos produzidos no município. A idéia é chegar à exportação.
O gerente de Comércio e Indústria da pasta, Luiz Alberto Fonseca, detalhou um pouco do que o estudo apresentou, dizendo que o artesanato encontrado nos cinco distritos de Angra tem características variáveis, que foram sedimentadas a partir das seguintes influências: as tradicionais – legadas pelos índios, escravos africanos e colonizadores europeus; as contemporâneas – assimiladas a partir de revistas especializadas, televisão, fluxo migratório e, em alguns casos, pela indústria.
A pesquisa cadastrou 273 artesãos, que vivem em várias localidades que compõem os cinco distritos do município: Centro, Japuíba, Jacuecanga, Perequê e Ilha Grande.
Números revelados
Do total dos artesãos cadastrados, 29% são do 2º distrito (Japuíba, Belém, Bracuí, Ribeira, Serra D’ Água, Ariró e Pontal); 28% são do 1º distrito (Centro, Vila Velha, Bonfim, Balneário e Morros do Centro); 21% são do 3º distrito (Jacuecanga, Monsuaba, Camorim Grande e Garatucaia); 13% são do 4º distrito (Perequê, Mambucaba e Frade) e 9%, do 5º distrito (Ilha Grande – Praias do Abraão, Araçatiba e Vermelha).
No item alfabetização, o resultado do nível de escolaridade entre os entrevistados está coerente com as dificuldades vivenciadas pela maioria dos 273 artesãos. A soma dos percentuais referentes aos artesãos não alfabetizados; que não completaram a 4ª série do ensino fundamental 1; que completaram a 4ª série do ensino fundamental 1; e que completaram a 8ª série do ensino fundamental 2, equivale a um total de 48%. Percentual maior do que o relativo aos artesãos que cursaram o ensino médio, igual a 34%. Apenas 6%, tiveram a chance de completar o ensino superior. Em relação ao sexo, as mulheres ocupam 76% do universo dos artesãos.
Os artesãos entrevistados indicaram o ‘fazer artesanato’ como uma atividade complementar à renda familiar, mesmo levando em conta aspectos relacionados às tradições familiares ou regionais, ou, ao dom natural. O tempo dedicado à produção artesanal não é integral mesmo para aqueles que vivem somente deste ofício. O percentual é considerável, igual a 69%. Isto, por conta das triviais responsabilidades domésticas.
São poucos os núcleos que mantiveram as tradições, o que indica uma grande perda de referência em relação às essências de Angra dos Reis, uma ‘aculturação regional’. Os motivos podem ser muitos, inclusive, os decorrentes da migração de pessoas
de outras localidades que foram para a região em busca de trabalho nas indústrias e usinas ali localizadas. Neste item, 45% entre os 273 artesãos entrevistados, alegaram o interesse pelo artesanato por terem dom e habilidade manual, em seguida, pelo fato deste ofício informal possibilitar uma complementação na renda familiar. Somente um pequeno percentual equivalente a 12%, indicou influência familiar e de aspectos tradicionais.
Existe um equilíbrio entre dois tópicos no resultado deste item: entre os 273 artesãos entrevistados, 38% se consideram autodidata. Estes artesãos uniram o dom, a intuição e a curiosidade, para então, experimentar as técnicas preferidas até aprendê-las.
Os que cursaram oficinas de técnicas artesanais equivalem a 30%; os que aprenderam com familiares a 19%, e, os que aprenderam através de amigos, revistas, entre outros, a 13%.
Entre os 273 entrevistados, 88 artesãos fazem parte de alguma associação existente no município, o equivalente a 34% das respostas. O maior percentual indica que 54% entre os entrevistados ainda não estão vinculados a nenhuma instituição. Um número bem elevado, 214 artesãos de um total de 273, trabalha na própria residência. Isto significa que estes artesãos passam pelas etapas de criação até a de confecção de um produto, completamente na informalidade, quase sempre sem a infra-estrutura de um ambiente
propício para a produção artesanal.