Entrega de certificados para índios

Prefeitura e universidades entregam certificados de conclusão do ensino fundamental para jovens guarani

Sexta-Feira, 31/08/2007 | .

 
 
            O CEA – Centro de Estudos Ambientais de Angra dos Reis – foi palco na noite de ontem, dia 30, de mais um importante evento: a formatura de 15 índios das aldeias Sapukay,   em Angra,   e de Itaxim, Araponga, Rio Pequeno e Mamanguá, em Paraty, que concluíram  o 1º Curso do EJA Guarani -  Projeto de Escolarização de Jovens e Adultos Agentes Indígenas de Saúde e Saneamento Guarani.
O curso semi-presencial foi realizado em diversas etapas em  2 anos e meio, tendo como salas de aulas, a mata atlântica, o mar, o meio urbano e todo espaço onde professores, alunos e comunidade pudessem se reunir. Na opinião de todos envolvidos,  professores e índios guarani, todos saíram ganhando com o curso,  tanto as universidades como as aldeias, com  uma   grande troca de aprendizagem e saberes entre os índios e os juruás (homem branco). A universidade publicando livros, estudos e se estruturando para abrir novos cursos que valorizem a cultura indígena do país e os índios por terem oportunidades de estudar a língua portuguesa, repassar seus conhecimentos e terem condições de ensinarem os conhecimentos adquiridos para as crianças e nova geração indígena.
 O curso foi realizado através da Gerência de Ensino Fundamental e da Coordenação de Projetos e Ações Interculturais da  Secretaria de Educação Ciência,  Tecnologia e Inovação da Prefeitura de Angra  Fundação Nacional de Saúde ( Funasa) em parceria com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Federal Fluminense (UFF),  Escola Técnica de Saúde Isabel dos Santos e Associação dos Rondonistas de Santa Catarina. O curso também   teve o apoio da Funai -Fundação Nacional do Índio - e Associação Cairuçu e Pousada Patrimônio de Paraty.
O Eja Guarani terá continuidade e a meta dos professores é que todos possam concluir o ensino médio e chegar à universidade. Os jovens guarani aprovaram o curso e uma nova turma já está sendo formada para iniciar o ensino fundamental.
Os índios que receberam os certificados agradeceram a participação dos professores e em retribuição os homenagearam com o ritual de pintura nos rostos. Os formandos foram os índios: Adílio da Silva, Sérgio da Silva, Aldo Cairamirim, Algemiro da Silva, Márcia Martins, Darci Nunes, Domingos Veniti, Eva Beniti, Isac de Souza, João da Silva, Jorge Martins, Vilmar Tupã, Lúcia Pra Iri, Pedro Beniti e Nírio da Silva.
Presentes a formatura, o Cacique João da Silva,  o “Veramirim”, do Brachuy , o Cacique Demécio Martini, da aldeia de Rio Pequeno, diversos índios, professores e representantes das universidades, instituições e entidades e empresa que deram todo o suporte para que o curso fosse efetivado com sucesso.
Dentre as autoridades presentes destacaram-se  a Subsecretária de Educação, Dilcéa Alves, representando a Secretária de Educação de Angra, Stella salomão, Armando de Barros (UFF), José Ribamar Bessa (UFRJ), Bernadeth de Lourdes (Funasa), Hermésio Serrano Filho ( Funai), Luísa Helena Martins (Coordenadora Pedagógica do PAIC da Prefeitura), Pedro Alves ( médico da Prefeitura de Angra), Maria Betânia Duarte (Ministério Público Federal), além de diversas outras pessoas.
Em suas fala, Dilcéa Alves  falou da alegria de estar presente na certificação da primeira turma do Eja Guarani porque dá visibilidade e continuidade ao projeto de inclusão social da Prefeitura e porque principalmente o projeto beneficia e valoriza os índios guarani , que muito enriquecem a cultura e o turismo de Angra e de Paraty.
Hermésio da Funai falou que a Funai também se sentia lisonjeada de estar apoiando o evento. Anunciou que a entidade está passando por um novo desafio que “é resgatar a dívida do sociedade brasileira com as populações indígenas e tradicionais” e aprenderem com elas que têm conhecimentos e saberes riquíssimos”. Uma das conquistas conseguidas neste período pela Funai, segundo ele, são bolsas para que índios possam freqüentar universidades.
  O professor Armando Martins de Barros, da UFF, lembrou há 11 anos foi feita a Lei de Diretrizes e Bases que permite a escolarização de índios e que com muita luta e determinação conseguiram iimplementá-la nesses últimos 3 anos.
_ Para que o curso pudesse chegar ao fim com a entrega dos certificados foram feitos muitos  esforços, tanto por parte de nós como dos guarani que não tiveram medo de serem aculturados. Na verdade, nós professores é que fomos aculturados e com muito prazer-, disse ele.
O Professor Bessa além de ser homenageado com a pintura no rosto recebeu dos índios o colar guarani, uma homenagem mais do que justa, segundo os índios, pelo excelente entrosamento com o grupo.  O professor lembrou como o curso nasceu e a importância de pessoas como Bernadeth,  e o médico Pedro e de todos os professores e pessoas da s comunidades que auxiliaram  no processo. Segundo ele, existem hoje mais de 1.500 índios no Rio fazendo o ensino universitário e que os daqui, depois de concluírem o ensino médio poderão com certeza estar presentes engrossando esta fileira.
- E os índios estão proporcionando que nasçam novos cursos nas universidades. Com eles vemos que há necessidade de se ensinar a língua guarani, uma língua rica, resistente e  falada por mais de 250 mil pessoas no Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina e Bolívia. Língua esta presente em cerca de 40 estados brasileiros e cerca de 100 municípios. No geral no Brasil são faladas 188 línguas indígenas e nenhuma delas é ensinada em universidade, temos que reverter este quadro, acredita ele.
Diversos índios e professores também se manifestaram agradecendo, homenageando ou relatando suas trajetórias . O cacique João da Silva falou em nome de todos os índios, sobre as dificuldades porque passam, sobre as diversas conquistas, suas tradições, crendices e vontade de aprender cada vez mais para se protegerem e manterem cada vez mais viva a cultura do povo guarani.
A solenidade foi encerrada com a entrega dos certificados de conclusão do curso, entrega de presentes,  a apresentação do coral de crianças e jovens guarani e uma grande confraternização.

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