Dia da Consciência Negra é celebrado em Angra

Missa dos Quilombos, capoeira e lavagem do busto de zumbi fizeram parte da programação

26 de novembro de 2015
Nem a forte chuva que caiu na manhã da sexta-feira, 20, desanimou o público que foi prestigiar as celebrações do dia da Consciência Negra em Angra dos Reis. Com uma programação montada em parceria com o Grupo Ylá-Dudu, a Fundação Cultural de Angra (Cultuar) promoveu, junto à União Municipal dos Umbandistas e Candomblecistas de Angra dos Reis (UMUCAR) e o Projeto Unidos pela Música, a lavagem do busto de Zumbi.

- Que essa data sirva, antes de tudo, para uma reflexão sobre o que é racismo e suas mais variadas formas. Não se pode negar, de forma alguma, o preconceito escrachado ou o velado que nós homens e mulheres negros vivemos - afirmou o Presidente da Cultuar, Délcio Bernardo, na abertura do evento.

Paramentados com roupas típicas de religiões de origem afro-brasileiras, os membros da UMUCAR iniciaram uma roda com cânticos para iniciar a lavagem do busto de Zumbi, depositando palmas e rosas vermelhas no local. Para um dos membros da União Municipal de Umbandistas e Candomblecistas de Angra, Michel dos Santos Maciel, a lavagem do busto é um momento de reverência à história do líder do Quilombo dos Palmares.

- Esse ato, de entoar nossos pontos é também um ritual de reverenciar e agradecer à Zumbi por toda a sua luta e trajetória. Somos todos filhos de Zumbi! Salve Palmares - Bradou Michel.

A manhã ainda seguiu animada na Praça. No entorno da Casa Larangeiras, cerca de 20 jovens, alunos e moradores da Serra D‘Água, participantes do projeto “Unidos Pela Música”, do percussionista angrense Jorge Moreno Filho, conhecido como Etíópia, deram o tom musical do evento, com músicas que falavam da importância da resistência negra. O encerramento contou com uma roda de capoeira comandada pelo Mestre Abutre, do Grupo Senzala.

MISSA DOS QUILOMBOS

Na quinta-feira, 19, foi a vez do Coral da Cidade prestar sua homenagem ao Dia da Consciência Negra, com a encenação de “A Missa dos Quilombos”, sob a regência do Maestro Moacyr Saraiva. Com a Casa Larangeiras lotada, o Coral da Cidade levou o público ao delírio com a apresentação, que contou ainda com a participação especial do Grupo Teatral Arteiros, representado pelos atores: Ramon Cruz, Vitória Lopes, Junior Bastos e Letícia Mendes, elenco do espetáculo “A Cabaça da Existência”, de Felipe Gustavo Barbosa.

A Missa dos Quilombos foi idealizada por Dom Helder Câmara e efetivamente escrita e produzida por Dom Pedro Casaldáliga, na época bispo de São Félix do Araguaia/MT, e Pedro Tierra, poeta. Fruto de dois anos de pesquisa sobre a escravidão negra e o silêncio teológico da igreja católica a respeito do tema, foi pensada como uma continuidade da Missa da Terra Sem Males. Esta, também escrita pelos dois “Pedros” alguns anos antes, tratava da exploração do índio, e da posição da igreja católica sobre o assunto.

Milton Nascimento, que Casaldáliga carinhosamente define como “um negro, criança maior”, foi convidado a musicar a missa/poema, além de cantar parte dela. Com produção à cargo de Frei Paulo César Bottas, a Missa dos Quilombos foi celebrada pela primeira vez para um público de sete mil pessoas em 22 de novembro de 1981, na praça em frente à Igreja do Carmo, em Recife, onde em 1695, a cabeça do líder quilombola Zumbi dos Palmares foi exposta no alto de uma estaca.