Angra homenageia Zumbi dos Palmares

Município discute racismo e congrega minorias étnicas

24 de novembro de 2014
O líder negro Zumbi dos Palmares, homenageado em todo o Brasil por conta do Dia da Consciência Negra (20 de novembro), também foi lembrado nessa data em Angra dos Reis. Com o apoio da Cultuar, foi realizada uma extensa programação cultural na praça Zumbi dos Palmares, no Centro. O grupo Ylá-Dudu reuniu lideranças negras, indígenas, quilombolas, sindicais e políticas da cidade para lembrar o líder negro e reivindicar a elaboração de políticas públicas de igualdade racial.

As atividades tiveram início às 9h, com a lavagem do busto de Zumbi, que também recebeu flores, e se estenderam até o início da tarde, com apresentação de índios pataxós e guaranis, jongo, capoeira, oficina de turbantes, dança de rua e recreação infantil.

Para a coordenadora do grupo Ylá-Dudu, Jaqueline Máximo, a luta pela igualdade racial no Brasil atualmente ultrapassa a questão da cor da pele e precisa atingir outros segmentos.

- Nossa luta hoje não é apenas pela implantação de políticas públicas em defesa dos negros, mas sim dos índios, quilombolas, ciganos, umbandistas e de todos os grupos que são discriminados neste país. Por isso estamos aqui ocupando a praça com todas essas lideranças reunidas, lembrando a luta de Zumbi, mostrando a nossa arte e buscando nossos direitos junto ao poder público - defendeu Jaqueline.

O presidente da Fundação Cultural (Cultuar), Délcio José Bernardo, fundador do grupo Ylá-Dudu em 1994, lembrou a importância de reverenciar a luta de Zumbi dos Palmares e comemorar esta data como uma homenagem do movimento negro nacional ao grande líder e à sua luta.

- Precisamos continuar a luta de Zumbi dos Palmares pelos negros. Precisamos cobrar o desenvolvimento de políticas públicas de igualdade para todos. A discriminação está presente em vários segmentos e, no caso dos negros, as pessoas são discriminadas duas vezes, pela condição social e pela sua cor. Isso precisa acabar - concluiu Délcio.


SEXTA-FEIRA: OFICINA DE TAMBORES E RODA DE CONVERSA

Dando continuidade à programação da Semana da Consciência Negra, na sexta, dia 21, a Casa Larangeiras recebeu a “Oficina de Tambores da África - A Trajetória do Tambor“. A programação alusiva à consciência negra é uma realização da Prefeitura de Angra, por meio da Fundação Cultural (Cultuar), e segue até o dia 29.

A apresentação da Oficina de Tambores é resultado da pesquisa de mestrado do professor Jauber. Ele destacou aspectos da trajetória do tambor africano.

- O tambor foi o primeiro veículo de resistência do negro como ícone de preservação do místico e sagrado na diáspora - ressaltou o professor, que apresentou os diferentes toques de tambor de cada etnia.

Na sequência, formou-se a roda de conversa, cujo tema foi “Atitude social, posição social“, conduzida pelo mestre Abutre, com mediação de Rômulo Nogueira (UFRRJ) e participação especial do presidente da Cultuar, Délcio José Bernardo; do Professor André Videira (UFRRJ); do coordenador de Editais da Funarte, Álvaro Maciel; do presidente da OAB/Angra, Cid Magalhães; e do ativista do movimento negro, Hugo Vilela; além da juventude quilombola da Associação de Remanescentes Quilombolas de Santa Rita do Bracuí (Arquisabra).

O tom do encontro foi em torno das questões de racismo e ações afirmativas. Durante a discussão, foi ressaltado que as demandas da população negra dependem de um enfrentamento que questione as estruturas sociais e construam políticas de inclusão, definindo pautas específicas no combate às desigualdades. Para o Jovem Edward Campanário, presente no encontro, o resultado dessa roda de conversa não terminou ali.

- Saio daqui muito feliz com esse encontro. Precisamos seguir fazendo um resgate permanente e não só pontual da questão do negro no Brasil, e essa roda de conversa aponta para isso. É a postura que muda a atitude, é a atitude que muda a sociedade - declarou o jovem.