Ciclo de debates da Fita é novidade de 2014

Festival terá rodas de conversa sobre cultura e ditadura

10 de novembro de 2014
Como parte da programação da Festa Internacional de Teatro de Angra (Fita), estão previstos até o dia 16 deste mês, a realização de um ciclo de debates tendo como tema principal, os 50 anos do golpe militar de 1964 e seu impacto no universo da cultura e do jornalismo do país. Os debates são uma atração a mais no festival de teatro que, este ano, está em sua 11ª edição. Já no primeiro final de semana, o evento, trouxe a Angra, grandes nomes da cultura nacional.

Na tarde de sábado, 8, a primeira mesa de debate, sob a curadoria do dramaturgo Sérgio Fonta, reuniu dois imortais da Academia Brasileira de Letras, o poeta Ferreira Gullar e o jornalista Cícero Sandroni. Realizado no plenário da Câmara Municipal, o tema era “Jornalismo e cultura: a posição da imprensa nos anos 1960/70/80“. A conversa contou com a mediação do jornalista Carlos Eduardo Novaes.

Em mais de duas horas de debate, foram lembrados fatos importantes como a Marcha dos Cem Mil, os anos de exílio político e a tortura. As manifestações culturais da época e espetáculos como os do Teatro Opinião também revisitaram as memórias. Cícero Sandroni lembrou que a grande imprensa brasileira apoiou a deposição do governo civil.

O poeta Ferreira Gullar, que militou no Partido Comunista Brasileiro, foi exilado pela ditadura militar e viveu na União Soviética, no Chile e na Argentina. Neste último país, escreveu seu antológico “Poema Sujo“, de 1975.

- A Argentina vivia uma ditadura, eu não queria ficar lá mas não podia voltar ao Brasil e nem podia ir para a Europa, pois meu passaporte estava cancelado. Não trabalhava e achava que ali seria meu fim. E eu me perguntava: O que me falta dizer, antes que tudo acabe? Foi assim que nasceu o ´poema sujo‘ - relembrou o poeta, que ainda narrou o sofrimento de um interrogatório pelo qual passou.

No domingo, 9, em outra mesa de debates, as atrizes Marília Pêra e Zezé Motta falaram sobre o papel da censura nos anos da ditadura e das dificuldades enfrentadas por quem queria fazer cultura nesta época. Em ambos os debates, o público pôde interagir e fazer perguntas. Os dois debates tiveram boa participação popular.

Os próximos encontros serão no final de semana de 15 e 16 de novembro. O ciclo de debates irá traçar o panorama da cena teatral na época da ditadura, mostrando a situação da cultura nos tempos duros do regime militar.

PROGRAMAÇÃO:

15 de novembro - “A dramaturgia de resistência“. Para enfrentar a ditadura, um grupo de intelectuais compõe a mais criativa maneira de denunciar os desmandos.

Debatedores:

Consuelo de Castro - Dramaturga, roteirista, cronista e publicitária. Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo. Estreou na literatura em 1962, aos 16 anos, com o livro de poesia “A última greve“, prefaciado por Guilherme de Almeida. Sua dramaturgia é objeto de estudo em países da América, Europa e Ásia.

João das Neves - Dramaturgo, escritor e diretor carioca. Um dos fundadores do Grupo Opinião. Desde 1992 está radicado em Minas Gerais, de onde se desloca para encenar espetáculos por todo o Brasil. João das Neves tem um currículo eclético, que inclui prêmios como o Moliére, Bienal Internacional de São Paulo, Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Golfinho de Ouro e Quadrienal de Praga.

Maria Helena Kühner (mediadora) - Autora teatral, contista, ensaísta, pesquisadora, tradutora. Tem 31 livros publicados, 27 prêmios e mais de 300 artigos e ensaios publicados na imprensa especializada. Em 2014 está completando 50 anos em plena atividade em teatro e literatura.


16 de novembro - “O caldo da cultura no saldo da ditadura“. Dois grandes criadores e um jornalista mostram uma época que não queremos de volta.

Debatedores:

Lauro César Muniz - Paulista de Ribeirão Preto, formou-se em Dramaturgia pela Escola de Arte Dramática (EAD). No decorrer dos anos 1970, transformou-se num dos mais importantes teledramaturgos brasileiros, escrevendo novelas como “Escalada“, “O casarão“ e “O salvador da pátria“ (Rede Globo), entre muitas outras, inclusive na Rede Record.

João Roberto Faria - Professor titular de literatura brasileira na Universidade de São Paulo, autor, pesquisador e coordenador da coleção “Dramaturgos do Brasil“ (Ed. Martins Fontes), dentre outras. Sua experiência na área de letras tem ênfase em teatro.

Luiz Felipe Reis (mediador) - Jornalista especializado na cobertura de arte e cultura, atua na imprensa escrita desde 2006 e, desde 2008, assina reportagens e críticas sobre teatro e música, dando ampla cobertura a esses dois segmentos culturais.