Pesquisa resgata folclore das Pastorinhas

Trabalho realizado pela Cultuar resgata e preserva a memória do patrimônio imaterial da cidade

05 de outubro de 2015
A Fundação Cultural de Angra dos Reis (Cultuar), por meio da sua Direção Cultural, concluiu um importante trabalho de preservação da memória e do patrimônio imaterial da cidade: resgatou partituras, letras e coreografias das Pastorinhas, manifestação folclórica que chegou à cidade no século XIX e teve sua última apresentação no ano de 1995. O trabalho tem coordenação geral da diretora de Apoio às Manifestações Culturais, Regina Márcia, e contou com o apoio de outros servidores, como o do maestro do Coral da Cidade, Moacyr Saraiva, que atuou na recuperação das partituras, letras e músicas da manifestação. A partir de agora, para finalizar todo o trabalho de pesquisa, serão feitos ensaios com crianças para a montagem das Pastorinhas ainda este ano. A apresentação poderá ser conferida na programação natalina do município.

- Eu acompanhei de perto a última apresentação das Pastorinhas, e percebi que esse folclore, de suma importância para nossa cidade, não poderia ficar apenas na memória de quem participou ou assistiu. Iniciamos então um trabalho de pesquisa e entrevistas com pessoas de várias gerações que participaram da manifestação. O trabalho começou ainda em 2013, com levantamento das personagens, antigos componentes, ensaiadores e músicos. Fizemos um ciclo de entrevistas que culminou no resultado do trabalho, que será apresentado na programação do Natal Iluminado e no Aniversário da Cidade - declarou Regina Márcia.

O tradicional folclore das Pastorinhas, manifestação semelhante a um auto de Natal, que homenageia o nascimento do Menino Jesus, chegou a Angra dos Reis no século XIX, e sempre aconteceu de 24 de dezembro a 06 de janeiro. Na apresentação, crianças e adolescentes que formam o grupo, trajados a caráter, cantam e dançam pelas ruas da cidade, acompanhados de uma banda, como relembra dona Wanda Alexiou.

- Quando eu era criança, ia para o moinho de grãos, que ficava no Cais do Porto, com Dona Dinha Jordão, para cantarmos as músicas e o seu Filinho escrever as partituras. A aprendizagem das músicas era feita por imitação, minha mãe cantava e as crianças escolhidas por Dona Cinira e por ela repetiam. E assim era feito de um ano para o outro, pois na maioria das vezes as crianças já sabiam as músicas de memória, e assim, havia apenas uma troca de personagem entre elas – disse, emocionada, dona Wanda.

O resgate das partituras musicais das Pastorinhas foi uma das etapas da pesquisa que necessitou de maior envolvimento e dedicação. Praticamente sem muitas referenciais sobre o trabalho do passado e de posse apenas de algumas notas musicais e letras, coube ao maestro Moacyr Saraiva, iniciar o trabalho montando as partituras e colocando letra e música nas canções, assim como na década de 70 fez o seu Filinho.

- A primeira etapa foi mais demorada. Foi preciso organizar as notas e conversas com os músicos da época para iniciar o processo de digitalização das notas e a transformação em partitura - informa o Maestro, que ainda contou com a ajuda de um software que auxiliou no trabalho de transcrição das partituras.

A apresentação das Pastorinhas se divide em duas fileiras paralelas, que durante todo o tempo cantam em homenagem ao Menino Jesus. As danças são feitas andando pelas ruas ou paradas em vários pontos da cidade. A música é executada conforme os personagens vão se apresentando. A cada novo personagem o coro canta e dança para que não haja interrupção.

Para o Presidente da Cultuar, Délcio José Bernardo, há uma necessidade de resgatar e preservar as tradições da cidade, já que representam importantes fatores para a reafirmação da identidade cultural angrense e a retomada das Pastorinhas é um exemplo claro disso.

- Todas as questões que envolvem a tradição das Pastorinhas estavam inativas, paradas há cerca de vinte anos. Sendo uma manifestação folclórica rica demais para ficar apenas na lembrança de quem participou ou assistiu. Vamos resgatar para preservar e assim fazer com que outras crianças e adultos possam conhecer essa manifestação que é tão rica - declarou Délcio.

Ensaios estão abertos

As crianças ou pais interessados que seus filhos participem das Pastorinhas podem se animar. As inscrições para os ensaios já estão abertas na Casa de Cultura Poeta Brasil dos Reis. O responsável deve acompanhar o menor para efetivar a inscrição. Os ensaios acontecem ás quartas e sextas-feiras, das 18h às 19h30 e podem participar crianças de 8 a 14 anos.

Um pouco sobre as Pastorinhas.

A última apresentação completa das Pastorinhas foi realizada em 1971, principalmente por conta do trabalho de Dona Cynira Sarmento Braga. Nos três anos seguintes as Pastorinhas não saíram às ruas.

Em 1975 a socióloga Ednéa do Marco Pascoal lançou o livro “As Pastorinhas”, escrito a partir de pesquisas realizadas pelas alunas do Centro Estadual de Ensino Integrado em Angra dos Reis, atual CEAV. Depois dessa pesquisa, algumas partes das Pastorinhas foram apresentados com o acompanhamento da banda de música do Sr. Farias.

Passaram-se mais de 14 anos, até que em 1989 a professora Mirian Savas Galindo dos Santos e o arquiteto Marcos César Cardoso reorganizaram o grupo, que se apresentou de forma fiel as tradições até ano de 1995. De lá pra cá aconteceram algumas apresentações de forma incompleta, no encerramento dos cursos de teatro ministrados pela professora Lú Queiroz: um auto de Natal, do qual participavam alguns personagens das Pastorinhas.

Com o passar do tempo, alguns personagens se perderam e outros foram criados. No levantamento feito pela Fundação Cultural do Município de Angra dos Reis, são mais ou menos 42 figuras: Os quatro Anjos; a Fama Ligeira; o Pastor; a Fada; a Noite de festa; a Noite tristonha; o Sol; a Lua; a Estrela; o Relâmpago; os Três Reis Magos; o Pescador; a Sereia; a Barca Bela; a Cigana rica; a Cigana pobre; o Marujo; a Cabana; a Peixeira; a Padeira; a Rainha; a Jardineira; a Mal me Quer; a Saloia; o Velho; a Borboleta; a índia Diana; a Camponesa; a Contra Mestra; a Camélia; a Baianinha; a Samaritana; a Manhosa; o Jardineiro Português; a Libertina; o Diabo; o Caminho; e Coro de pastoras e pastores, dez meninas e dez meninos.