Milhares de fiéis na Procissão de São Benedito
Uma das mais bonitas procissões de Angra enche as ruas do Centro de religiosidade e tradições culturais
10 de abril de 2012

Cerca de 10 mil pessoas foram às ruas de Angra, no início da noite de segunda-feira, 9, para mostrar sua devoção e veneração a São Benedito, considerado como patrono da cidade. “Foi uma das maiores procissões dos últimos tempos em Angra: muito bonita e cheia de religiosidade. O tempo ajudou e só choveu fraco uns minutinhos”, considerou Edinho Lima, o festeiro do mastro de São Benedito.
Edinho, junto com a esposa Márcia Lima, faz parte da Irmandade de São Benedito, uma das mais antigas do Brasil, datada de 1820. E, como diversos irmãos do grupo, ingressaram após ter recebido graças de promessas feitas ao santo devoto. Como eles, milhares de pessoas participaram da procissão agradecendo e pedindo bençãos ao santo, cuja devoção chegou ao Brasil, trazida pelos africanos.
A senhora Ana Benedita, 83 anos, veio da Ilha Grande para participar do cortejo. “Meus parentes mais antigos vieram da África, e desde pequena venho à festa aqui na cidade. Enquanto estiver caminhando, estarei aqui. São lembranças e simpatias que guardo há muito tempo do santo de devoção da família. Hoje trouxe três netos para que aprendam a gostar da procissão”, conta ela.
A procissão saiu da igreja da Ordem Terceira do Carmo, depois das 17h, com nove andores de imagens sacras: Jesus Ressuscitado, Santa Rita de Cássia, Nossa Senhora de Fátima, Santo Antônio, Nossa Senhora Aparecida, São Bernardino, São Francisco, Menino Jesus da Cabeleira, Nossa Senhora do Rosário e, finalmente, a imagem de São Benedito, no maior e mais enfeitado andor, o de colunas antigas, que vem sendo utilizado desde o século XIX.
O provedor da Irmandade de São Benedito, Carlindo Gomes, e diversos representantes da igreja, irmandades e ordens religiosas acompanhavam o cortejo.
Crianças vestidas de anjinhos, os festeiros Marco Aurélio Vargas e a esposa Piedade; e os soberanos da festa representando rei e rainha africanos, Zélio Nascimento e Teresa com sua mucama Maria Rosa, além das crianças Gabriel e Geisielle, como príncipe e princesa da festa, também faziam parte dos personagens tradicionais da procissão, como também a Banda Jardim Sarmento e grupos de congada e de moçambique, vindos de Guaratinguetá (SP) , convidados especiais do evento. No passado, a festa contava com grupos folclóricos da região, que hoje já estão desativados. E para que a tradição não seja esquecida, a Irmandade convida grupos de São Paulo, que sempre são bem-vindos. São eles e a banda de música que fazem a alvorada pelas ruas do Centro, anunciando que o grande dia da festa chegou.
A Festa de São Benedito é realizada pela Irmandade de São Benedito e Igreja Católica e recebe apoio da prefeitura, através da Fundação Cultural (Cultuar).
Subida e descida dos mastros de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, novena, celebrações, missa campal, almoço comunitário, grande procissão e quermesse enriquecem os festejos, que acontecem sempre na segunda-feira após a Páscoa.
Conta a história que o festejo foi iniciado em Angra pelos escravizados africanos. Eles vinham das fazendas do sertão e das ilhas acompanhando os fazendeiros que festejavam o Domingo de Páscoa no Centro da cidade. Ganhavam folga na segunda-feira e aí se reuniam para comemorar o santo negro e suas tradições, tais como as danças e execuções de cantigas de moçambique, congada e jongo, que eram apreciadas por toda a população.