Alunos da Ilha Grande aprendem sobre abelhas e meio ambiente

O Zum das Abelhas Nativas alinha brincadeiras e educação, alertando sobre a importância das abelhas sem ferrão para a natureza e a humanidade

Sexta-Feira, 15/07/2022 | Instituto Municipal do Ambiente de Angra dos Reis .

As abelhas são insetos muito importantes para a espécie humana. Para algumas pessoas, pode não ser tão fácil observar uma abelhinha e imaginar que a humanidade esteja diretamente relacionada àquele pequeno ser. Mas, em nosso frágil ecossistema, onde tudo está conectado, elas são um dos fatores responsáveis pela polinização e, por isso, pelo desenvolvimento e manutenção da vegetação e da biodiversidade e pela produção de alimentos.

Na Escola Municipal Brigadeiro Nóbrega, na Vila do Abraão (Ilha Grande), o projeto educacional e ambiental O Zum das Abelhas Nativas visa à aproximação entre as crianças e o “trabalho” das abelhas sem ferrão, ou seja, as que não causam perigo de picada.

O projeto, conduzido pela professora e pedagoga Tatiana Mariano, tem o apoio da unidade de ensino que pertence à rede municipal, do Instituto Municipal do Ambiente de Angra dos Reis (Imaar), do Fundo Municipal de Meio Ambiente de Angra, da Associação de Meliponicultores do Rio de Janeiro (AME-Rio) e do BeePoint Meliponário do Saco do Céu, localizado na Ilha Grande. Em sua primeira experiência, o projeto envolveu crianças entre 5 e 6 anos de idade, do Pré 2-A e Pré 2-B (Educação Infantil).

– A ideia do projeto começou quando fomos, eu e as crianças, plantar girassóis, e eles falaram sobre o medo de abelhas. Contei que nem todas as abelhas têm ferrão e, a partir daí, o tema se estendeu. Precisamos proteger as abelhas, mas, para isso, é preciso primeiro conhecê-las, principalmente as abelhas nativas sem ferrão, que não representam perigo para os seres humanos – relembra a professora responsável.

As atividades começaram em maio deste ano e foram até a mais recente edição do Festival de Música e Ecologia da Ilha Grande, no último fim de semana, quando as crianças apresentaram uma exposição sobre o trabalho desenvolvido na Casa de Cultura da Vila do Abraão, com cartazes, fotos, réplicas artesanais de colmeias, abelhinhas de pelúcia etc.

Nas atividades, ao longo do projeto, os alunos conheceram espécies que vivem na Ilha Grande, como a Tubuna, a Jataí e a Abelha-limão (todas sem ferrão); leram revistas em quadrinhos e assistiram a filmes sobre abelhas; exploraram o tema “abelhas” por diversas áreas do conhecimento; fizeram desenhos, abelhas de massinha, acessórios estilizados, réplicas de colmeias em argila, giz de cera de abelha (usando urucum, que possui sua pigmentação graças à polinização das abelhas); prepararam pães de mel; participaram de ações de reflorestamento com o Batalhão Florestal; conheceram os materiais usados em meliponálio etc. Algumas das atividades envolveram alunos e pais.

Ao final, as crianças ganharam um certificado de “Protetores das abelhas nativas” e também organizaram a exposição que foi apresentada na Casa de Cultura, catalogando todas as atividades realizadas.

– Tentamos fazer com que as crianças brincassem reforçando o aprendizado, para que também possam compartilhar o assunto com outras crianças, até mesmo de outras escolas – ressaltou a professora e pedagoga.

Uma conscientização ambiental que envolva a preocupação com o futuro das abelhas tem ocorrido em diversos países. Diversas espécies de abelhas têm entrado em risco de extinção pelo mundo. Para enfrentar o problema, setor público, sociedade civil e pesquisadores têm se empenhado em ações visando à preservação desses pequenos, porém tão importantes insetos.

Na América Latina, há exemplos vindos do México, como o projeto “Soy Abeja Maya”, do Instituto Educampo, e daqui mesmo do Brasil, como o projeto da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) para estudar a mortandade das abelhas locais; e o programa Poliniza Paraná, do governo estadual paranaense, para introduzir colmeias de abelhas nativas sem ferrão em parques locais.

Em Angra, o meliponário parceiro no projeto recebe, gratuitamente, visita de escolas da rede. “Meliponário” é como se chama a criação de abelhas sem ferrão. A criação de abelhas com ferrão é chamada de “apiário”.

Segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no Brasil, as espécies sem ferrão são as mais ameaçadas. Os perigos vêm de todos os lados: pesticidas, desmatamento, fungos, pragas, mudanças no uso da terra etc. A responsável pelo Zum das Abelhas Nativas pretende dar continuidade ao projeto. Dentre os próximos passos, está a elaboração, juntamente com as crianças, de um jogo que possibilite juntar os conhecimentos adquiridos para que, por meio das brincadeiras, o aprendizado seja reforçado.

– Espero que eles não só tenham perdido o medo desses insetos, conhecendo a diversidade das abelhas nativas sem ferrão, mas que também entendam a importância delas na natureza e na nossa vida de modo geral. É fundamental ainda que as crianças saibam que têm voz e que nós, adultos, professores, os escutamos, para que nesse diálogo possamos também aprender alguma coisa. Quando o projeto parte de um assunto do interesse deles, vindo de uma demanda específica, a aprendizagem significativa ganha infinitas possibilidades. Cada etapa foi discutida em conjunto e teve a participação direta das famílias – disse Tatiana Mariano.